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Por falar nisso… baixo peso e anorexia são sinónimos?

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Tantas vezes se ouve falar sobre o excesso de peso e a obesidade em Portugal, suas consequências e como é a doença do século XXI. Esta preocupação é e deve ser uma prioridade para os orgãos de saúde pública, privada e para a população em geral.

No entanto, existe outro grupo do qual pouco se fala, mas cuja saúde também pode estar em risco devido a um peso desadequado e onde muitas vezes também existe insatisfação coma imagem corporal: as pessoas com baixo peso ou magreza. Na maioria das vezes, quando se fala em alguém nesta situação é para fazer um comentário: é anorético(a). Mas… pode não ser. Aliás, na maioria dos casos, não é.

Ter baixo peso ou magreza, significa que a relação entre o peso e a altura (Índice de Massa Corporal) está abaixo do considerado saudável, ou seja, abaixo de 18,5. Nestas situações, deve ser ainda avaliada a composição corporal, em termos de massa gorda e massa muscular, para uma melhor compreensão da situação.  E aqui, pode-se distinguir 3 tipos de situação: baixo peso e metabolismo elevado, baixo peso e pouco apetite e baixo peso e distúrbio alimentar, que pode ser então, uma situação de anorexia nervosa.

Baixo peso e metabolismo elevado

Geralmente, são pessoas quem têm baixo peso desde a infância e não foi despistada qualquer situação de doença, tratando-se, por isso, apenas de um metabolismo elevado. É aquela situação que com frequência se vê como desejável e à qual se faz comentários como “quem me dera ser como tu” ou “não sei do que te queixas, podes comer o que quiseres e não ganhas peso”. Isto ocorre pois o que a maioria da população quer e alguns se esforçam para, é ser “magro”. Existem pessoas com baixo peso que se sentem confortáveis como estão e querem mesmo manter-se dessa forma, sem pensar muito no assunto. No entanto, a nossa experiência profissional diz-nos que muitas vezes quem tem baixo peso não se sente bem com o seu corpo, tendo baixa auto-estima e estando numa constante luta para ganhar peso ou, pelo menos, não perder mais. Sentem que a roupa lhes fica mal, que de fato de banho “se vêm os ossos”, por vezes sentem pouca resistência e força… e ainda ouvem com frequência que podem estar doentes, que são anoréticos e que estão assim porque querem. Não é fácil lidar com tudo isto. E não estão assim exactamente porque querem, esforçando-se com frequência para comer mais, às vezes até ao ponto do enfartamento.

Baixo peso e pouco apetite

Este grupo, à semelhança do anterior, não se esforça para ter pouco peso. Simplesmente é uma consequência de outra situação, neste caso de pouco apetite. São indivíduos que, na sua maioria, com mais facilidade podem ganhar peso se assim o desejarem, pois o seu metabolismo pode não ser tão elevado como o metabolismo do grupo anterior. Nem sempre são casos que vêm da infância, podendo ser consequência de outras situações (depressão, ansiedade, …) em que a falta de apetite momentânea permaneceu e é frequente o apetite e o peso serem flutuantes, variando com os acontecimentos na vida, companhia, humor, entre outros. Ter pouco apetite pode não significar sofrer de anorexia nervosa, pois não há esforço para comer menos, nem medos ou sentimentos negativos fortes associados à comida em si e ao acto de se alimentar. Há apenas pouco apetite.

Baixo peso e anorexia nervosa

A anorexia nervosa é um distúrbio alimentar sério, que pode colocar em risco a própria vida da pessoa. Caracteriza-se pela recusa alimentar propositada e perda de peso desnecessária e excessiva, exacerbadas por um medo ilógico de ganhar peso e uma percepção distorcida da própria imagem corporal. De notar que a perda de peso é apenas a consequência de vários comportamentos e que sem eles, não existe anorexia nervosa, ou seja e reforçando o que já aqui se referiu, quem tem baixo peso ou magreza, não é necessariamente anorético se não tiver os sentimentos negativos associados à alimentação. Aliás, a prevalência de anorexia nervosa em Portugal ronda os 0,4% da população geral, logo não é frequente.

 

Hoje em dia, tem-se falado mais acerca de pessoas com magreza ou baixo peso (sem anorexia nervosa) e é mais frequente a procura de soluções através da consulta de nutrição e/ou acompanhamento de ginásio para aumento de massa muscular e volume. A verdade, é que consegue-se trazer felicidade e bem-estar a estas pessoas que, até aí, sentiam que esforçavam-se para comer e não viam evolução no peso. Parte do apoio é realmente fazer estes indivíduos perceber que não são logo titulados de “anoréticos”, que são compreendidos e que, com esforço, há solução. E sim, ganhar peso nestas situações exige esforço, pois momentos de stress, ansiedade, tristeza ou alteração radical de rotina, podem provocar uma perda de peso brusca, se não souber o que fazer para contrariar essa tendência.

Assim, se conhece alguém com baixo peso, não assuma que existe um distúrbio alimentar, não lhe chame logo e frequentemente de anorético, mesmo que seja em brincadeira. Caso queira ajudar, pergunte se a pessoa sempre teve baixo peso ou se é recente. Se houver abertura, reforce junto dessa pessoa para realizar mais refeições e que mais lhe agradam, mas não esteja sempre a impingir comida. Se sentir que há desejo, disponibilidade e vontade para ganhar peso, sugira acompanhamento profissional.

No caso de ser uma situação de perda de peso brusca sem aparente motivo ou se desconfiar que poderá haver algum tipo de disturbio alimentar, o mais aconselhável será consultar um médico. Apesar de pouco frequentes, estas situações também ocorrem e devem ser acompanhadas com delicadeza, tempo e paciência, por um profissional.

 

Referências consultadas:

Anorexia Nervosa. Natrional Eating Desorders Association. Em: https://www.nationaleatingdisorders.org/anorexia-nervosa

CARDOSO, Sónia (2002), “Representações Sociais dos Distúrbios Alimentares: estudo empírico junto a ex-pacientes, familiares e técnicos de saúde”. Tese de Mestrado em Sociologia. Coimbra: FEUC.

PORTUGAL Alimentação Saudável em números – 2014. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE, LISBOA. Dezembro de 2014

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